quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Sem título... sem imagem?

(...) 

Perdi a linha entre os dois últimos anos atrás e os segundos anteriores ao ato de pensar a escrever aqui, novamente...

Abri a tela de edição no smartphone, sentado à mesa do café da manhã, e de cara me foi exigido colocar um título no post... escrevi algo aleatório pra não perder a ideia que ainda parecia estar latente, mas...

E agora, como recuperar algo (momentaneamente?) esquecido? Minha vontade me diz pra seguir o conselho do senso comum: volte a repetir o que estava fazendo pouco antes de ter tido o impulso de querer escrever aqui (já que não pretendia, e de repente algo aconteceu...

Bom, acordei hoje com uma vontade imensa de ler "O livro de Manuel", de Julio Cortázar. Leio o seguinte, na orelha da direita: "Segundo o autor, o objetivo desse livro é" contar o gesto afirmativo face à escalada do desprezo e do medo. E essa afirmação deve ser a mais solar, a mais vital para o homem: sua sede erótica e lúdica, sua libertação dos tabus, sua exigência de uma dignidade disseminada numa terra livre do horizonte habitual de TENTÁCULOS e de dólares"...

Imediatamente tento não fazer alarde diante da coincidência, e simplesmente sigo minha rotina, tiro a água quase pra ferver e vou queimando lentamente o pó do café, aquele cheiro da fumacinha no meu focinho... 

Sento na mesa com a xícara de café e começo a ler o livro: "Por motivos óbvios fui o primeiro a descobrir que este blog não somente não parece o que quer ser, mas que com frequência parece o que não quer, e assim os defensores da realidade na literatura vão achá-lo um pouco fantástico enquanto os entusiastas da literatura de ficção deplorarão sua aliança deliberada com a história de nossos dias. (...) P.S. (7 de setembro de 1972). - Acrescento estas linhas enquanto corrijo as provas e escuto os boletins do rádio sobre o acontecido nos Jogos Olímpicos... "

P.S. (27 de agosto de 2020). - Acrescento estas linhas enquanto corrijo alguns lapsos de memória de curto prazo e leio os boletins do Facebook sobre o acontecido nas UTIs nas últimas 24 horas...

Lembrei! (... enquanto lembravam os... ) !! Eu iríamos começar a escrevi assim:

"Escrevo estas linhas agora (ou seja, alguns minutos antes na minha cabeça e ao mesmo tempo digitando nesses quadradinhos dessa te-linha pela primeira vez aqui), após ter relido hoje - antes de dormir nas primeiras horas da madrugada - todos os posts desse blog, deitado na cama com a cabeça preocupada no que pode acontecer com nossas vidas se... melhor nem pensar, mas tudo parece premeditar novamente noites e dias sem... como não pensar, como?

Vamos ouvir a monja... Mas não tem monja nova, só coisas antigas, então vamos tentar dormir sem... mas como?, sem pensar, sem...

Tentáculos. A retomada, as intermitentes retomadas dos tentáculos, e revivendo e relendo agora (ou seja, hoje antes de dormir...) com certo distanciamento, como um outro que não conhecia o que já tinha escrito e já não sente sua própria voz ouvida numa gravação tão esquisita, e até mesmo dá umas risadas sinceras...

E percebo que o passado está muito presente ainda, que aquilo que não lembramos mais ou que tentamos esquecer continua de alguma maneira a reverberar, e influi naquilo que estamos pensando e fazendo mesmo que contra nossa vontade... Mesmo não querendo escrever, não querendo compor como antigamente, já estou escrevendo...

É já estou compondo novamente... à moda antiga, num jeito antigo de sermos o que sempre fomos mas sempre de uma forma diferente, nesse Campo de Forças, as forças de acumulação, de permanência e transmutação: crenças sobre crenças, talvez novas crenças, nova criança... melhor nem pensar!

Desvio e desvario, peça ajuda aos tentáculos (... disparado pela leitura ou chamado achado na orelha do lado direito, que me assaltou os olhos, caixa alta etc). Peça nova para violão e Live electronics, e a retomada dos TENTÁCULOS desde meu mergulho nos escritos e obra (... "a floresta...") de Luigi Nono... já tenho o título da próxima composição e algumas imagens sonoras, e vou me esforçar para não guardar mais uns cem títulos na gaveta dos afogados:

"A mente é obscura e cheia de vozes"


(...)