sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Polirritmias e múltiplos eus...


Ainda não acordei, e já estou escrevendo, por que ainda não fui dormir, por que estou adiantando o que está por vir... tudo são polirritmias!!!

Imaginem que sou 4 em vez de 1: um eu, (1) dormindo tranquilo; outro eu (2) acordando, pouco aflito; outro eu (3) sentado acordado se acalmando; e um outro eu (4) levantado, rezando (..ou compondo?);

Em cada um destes eus, uma linha temporal distinta, um batimento cardíaco diverso, um ritmo de estado de alma diferente... agora, o que acontece se eu sobrepor estes 4 eus?

Exato, tenho uma polirritmia:

(fragmento de "os passos no rastro" - para orquestra)

Imaginem agora outros 4 eus: um eu (1) acordando hoje (sexta-31/08/12) para um exame de sangue e aguardando uma cirurgia para retirada de pedra na vesícula; outro eu (2) indeciso se fazer ou não uma reforma na casa, calculando gastos com mão de obra, pedra, areia etc...; outro eu (3) sem saber direito o que fazer com uma série de problemas com cartões (C&A-bradesco) que não pedi, mas cobrando anuidade, outra multa que estão cobrando e me colocando no serasa, contrato da TIM que me engabelaram, nossa, quanta pedra no caminho...; e finalmente, um outro eu (4) compondo (..ou rezando?) uma peça para orquestra (título: "entre pedras" - nada é por acaso!!), buscando algumas idéias de polirritmia para a introdução em outra peça para orquestra etc...

...a vida é assim: tudo são polirritmias !!!


(...para ler antes de dormir...): texto/aula---> multiplos eus

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Entre Pedras: primeiras notas...


*     *     *


Hoje preciso dar início, de modo mais concreto, à minha nova composição para enviar à XX bienal (Funarte), sem desvios, sem titubear mais... (...sem sair correndo postar no blog...) !! ---> a primeira pedra no caminho...

'Concreto' no sentido da expressão "botar a mão na massa", ou seja, saltar do plano das idéias (..que já vem de longuíssima data...) e descer ao mundo das leis Newtonianas, sentir o atrito do lápis percorrendo as entrelinhas da pauta, o peso da borracha, a força do vento do sopro que vem da boca junto com seus respingos...

Minto, não pertenço mais e esta geração... já faz algum tempo que dou início concreto à alguma composição abrindo o Sibelius, escolhendo a instrumentação etc... neste caso específico, o desafio me deixa muito inseguro, pois será para Orquestra Sinfônica... (minha segunda tentativa real).

As primeiras idéias para o início são como se fossem micro-passos desgovernados ("to stalk"), nas percussões... e alguns fiapos e faíscas nas madeiras e metais; tecnicamente falando, uma série de ciclos, ou "cenas" polirrítmicas, sempre em pianíssimo. Os ciclos vão se tornando gradualmente mais densos, até culminar numa segunda seção: uma espécie de combustão de sinos e pedras, uma releitura do início da peça "mortuos plango, vivos voco", de Jonathan Harvey.

O resto ainda não sei... são muitas possibilidades. Há um pequeno vídeo que fiz há algum tempo atrás, e que serviu de pontapé inicial para as divagações que agora busco concretizar... Seria um tipo de "transcriação intersemiótica" do vídeo para a música?

Uma resposta concreta: "talvez..."




 http://www.youtube.com/watch?v=-vJAKp2glSw

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Dupla Captura: primeiro movimento

 

Acabei o primeiro movimento de minha mais recente composição: "Dupla Captura", para piano e vibrafone. (o movimento se chama: "memória e esquecimento")

Ela começa evocando as forças dos espíritos ancestrais, com blocos monolíticos quartais, tal como um epitáfio de uma coluna grega.


E finaliza com um trinado... tal como o "último trinar" de Heidegger:


Esta composição é uma encomenda do duo Marcello Casagrande e Matheus Gonzales. Se tudo der certo, eles irão gravar um CD no ano que vem junto com outras composições.

Agora preciso começar o segundo movimento ("a vespa e a orquídea"), e finalizar até Outubro. Já deu pra sacar no que vai se transformar aquele trinado... preparem-se: tudo vai começar a tremerrrr, tremularrrr, vibrarrrrrrrrrrrr... pelo menos esta é a idéia inicial... pra onde isso vai levar, só os espíritos mais bem aventurados têm o Dom da visão além do agora... mas eu já tenho uma pista: "para mim no deserto cinzento de uma grande simplicidade", onde o tempo deixará de cobrar seus tributos...



terça-feira, 28 de agosto de 2012

Café com Mattina...

















Hoje acordei com uma grande vontade de compor!!

Estava tomando café e relendo uma matéria do JL e me senti mais "iluminado"...

Por um instante tive uma visão do Todo!! ...uma música quase inimaginável e imperceptível!!

Com certeza, era um sinal da "máquina impossível", uma espécie de fábrica de produção de música atual...

Isso é o que eu chamo de "composição instantânea", como tirar uma foto e ...ZAZ!!! Lá está registrado a imagem com todos os micro-detalhes (...e todas as suas possíveis pequenas-percepções..)

Agora, só tem um probleminha: sinto dizer, mas sinto que a Música não mais habita em minha memória, tal qual estava há alguns minutos em minha mente... tento lembrar das partes, dos detalhes, e cada vez me vem à cabeça uma imagem um pouco diferente... na verdade, a cada tentativa de lembrança, um diferencial se apresenta... uns mais parecidos com o original, já outros nem tanto...

Acho que a luz está se apagando, e o café já está completamente frio... e aquela vontade de compor já não é mais tão grande assim... onde está o erro? Simples, primeiro me desviei demasiado da composição em si e não segui a suas linhas tempo suficiente para fixar na memória os seus referenciais (perceptos e afectos) mais relevantes; segundo, ao invés de pegar uma caneta e um papel, fui ao computador tentar registrar aqui aquele momento de entusiasmo, ou seja: lição do dia: compor se compõe compondo.

Mattina
M'illumino
d'immenso

(Giuseppe Ungaretti

(...este haicai será a epígrafe de uma peça para flauta solo <<sete manhãs>>, baseada no "fio dos dias"... em breve publicarei neste blog, não se percam...)

...enquanto isso, que tal ouvir um Scelsi? Pwyll (para flauta solo)

...no princípio: a fachada e o subcutâneo

 
 
Compor e viver ao mesmo tempo (...ou, em busca da máquina impossível?)

Compor, para mim, não é exatamente (como para muitos) o mesmo que viver.

Existem relatos de compositores que dizem não saber a diferença entre compor e viver, ou melhor, que não conseguem viver um dia sem compor (ou, pensar na composição);

ou seja, seria como se fosse o ar que respiramos (...uma necessidade absoluta).

Sinto dizer que sinto inveja destes compositores... não nasci com este Dom.

De tanto querer ter este Dom, vou escrever para mim mesmo um blog com esta epígrafe: "comer, rezar, compor..."

E dar início a um novo suporte (universo paralelo) de bio-composição, psicografia do espírito criador...

Ou simplesmente, mais um motivador, ou um jogo, um passa-tempo, um registro, um argumentador, ou melhor, um outro tipo de máscara do demônio das associações, uma roleta russa de signos...

...uma fachada !

...camada mais superficial do que realmente importa na vida: "comer, rezar, compor"

...mas logo em seguida, vou desligar o computador, e dormir... 

(...sem compor nada...)