quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

pedras para o insólito

...esqueci que existia em partes nesse sítio, e nesse ínterim de mais ou menos 6 anos, tudo pode ter dado uma reviravolta, ou nada disso... o vermelho continua vermelho, o pernilongo continua me picando, meu olho direito continua tremendo... mas será que escrevo desse lado da vida como vivo ou já não estaria num outro plano como um fantasma? O que exatamente mudou nesse ínterim???

...bom, ontem (11/12/2018) estava lendo antes do almoço um texto de Cortázar (...isso ainda continua, num ritmo muito mais deslizante...), e como sou cético e não acredito em fantasmas, fui interrompido de repente por um pardalzinho (...ou era uma rolinha?? ...não... era marronzinho!!) que se chocou na grade da janela ao meu lado (sorte minha, senão já imaginava um pássaro cravado em meus tímpanos...), que susto da p....!!! ...susto maior, foi quando me dei conta que estava lendo um texto com título "janelas para o insólito", e no primeiro parágrafo está inscrito: "Entre essa dupla proposta ou intenção algumas vezes se desliza o insólito como um gato que pula no palco em plena representação, ou como aquele pardalzinho que uma vez, quando eu era jovem, voou por um bom tempo sobre a cabeça de Yehudi Menuhin que tocava Mozart num teatro de Buenos Aires..." (CORTÁZAR, "papéis inesperados", p. 416).



...não creio em destinos, mas se isso aconteceu foi por causa de minhas novas investidas em áreas outras do conhecimento e novos espaços acadêmicos, que vieram me dar tormento e lufadas de ar contra decênios de terrorismo estruturalista e formalista (...um talento-nato?), de repente, como um pássaro louco a sair batendo em todas as grades possíveis, cá estou tentando entrar num programa de doutorado em Literatura Comparada (UEL/2018), fazendo duas disciplinas como estudante especial: 1) 2LET876 - Figurações do outro na literatura; e 2) Literatura, cinema e suas materialidades. (a constelação das pedras é muito maior, mas vamos convergir para um único ponto, por hora)

...puxa, fazer uma disciplina acadêmica (valendo nota) que te comprometa a assistir um filme por semana para depois refletir, discutir etc... um sonho!! Se o cinema é uma paixão antiga, mas como não é meu trabalho, cada vez fui me distanciando do cinema... e agora uma oportunidade rara para colocar essa aproximação como prioridade em algumas horas durante a semana! E assistindo "passion" de godard nessas últimas aulas, e mais interessante ainda o "roteiro do filme passion", a tela em branco e o "chamado" pelas imagens... hoje, difícil imaginar como retomar essa paixão, depois que soterrei essas raízes com pedras, muitas pedras caindo sobre a terra, sobre a raíz... como desenterrar e voltar a rever as imagens?? Foi em março de 2011... comprei uma pá para jogar pedras num recanto de terra... fui ao trabalho!! Distraído, a pá resvala no chão de concreto e faz ressoar mais que um som, com todos seus harmônicos e inarmônicos... súbito me veio uma Imagem!! Uma imagem de um som de uma pá ressoando na minha cabeça e disparando uma série de 'figuras' de músicas, de um possível video sobre o que poderia surgir a partir de tudo isso... e olhando sem ver exatamente o que teria de interessante, pelo jardim, percorrendo esse universo microscópico, o que a câmera que eu tinha na época poderia "flagrar", e em resumo, o que seria um processo de criação??

...não podia ficar pensando muito, tinha somente que realizar algo: "entre pedras", ou também, uma micro paideuma (cf.: Ezra Pound) de composições musicais sobre uma trilha imagética para mim mesmo.








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