sábado, 15 de setembro de 2012

Capturando a captura do movimento



Parei agora para pensar no seguinte: como funciona compor pensando no movimento da música? Ou seja, o que se passa no tempo do pensamento quando estamos imaginando a música em movimento? (...uma outra questão para pensar só depois, para não entrar num círculo de sobreposições vertiginosas: como funciona descrever verbalmente o que se passa no tempo do pensamento quando estamos imaginando etc..??)

Vamos tentar analisar: Um ataque súbito, seco, áspero e pungente! Uma pequena explosão e em seguida um lapso de silêncio... outro ataque, agora com múltiplos sons contínuos, agressivos e metálicos, tudo embaralhado, borbulhante, bem forte e também pungente... vai gradualmente ampliando a faixa da tessitura preenchendo cada vez mais os domínios dos graves e agudos... quase que sem perceber, umas coisas vão se misturando com outras, numa espécie de amálgama de timbres, mas não dá pra distinguir ainda exatamente o que está se passando no meio dessa textura complicada... nesse ínterim, alguns flashes de ruído branco começam a pipocar, como pequena pérolas, aos poucos, aleatoriamente... e um vácuo de ausência de sons começa a se abrir bem no registro médio e vai gradualmente ampliando a faixa da tessitura preenchendo cada vez mais os domínios dos graves e agudos... como um filtro em operação, aqueles múltiplos sons agressivos vão desaparecendo, e sobram somente os flashes de ruídos e aquelas coisas se misturando umas com as outras... umas minhocas nos graves, outras libélulas nos agudos... e parece que umas folhas borradas em preto e branco. De repente, do lado esquerdo das folhas aparece um cara com uma filmadora.

Bom, as coisas não são tão simples assim... é que o Movimento em si ultrapassa o domínio dos sons e se mistura com outros domínios, visuais, táteis, cinéticos, olfativos, guturais-palatais, espirituais... Engraçado, para se capturar o movimento eu tenho que paralisar o movimento, então na verdade é uma captura do não-movimento!! Mas o certo é pensar na captura do movimento enquanto ele se movimenta... capturar a linha das durações das coisas no decurso do tempo.

Agora, o grande problema é que essa linha não é uma linha do tipo fio de náilon... mas do tipo corda sisal!!! Com nós que se interligam a outras linhas... Como assim???

Vamos voltar na tentativa de analisar: Um ataque súbito, seco, áspero e pungente! Um ataque de caixa com esteira junto com pizzicatto da cordas e com um sopro seco e fortíssimo das madeiras em registros super agudos ou super graves... pausa de três colcheias, e um tutti orquestral (...bom, agora eu teria que mostrar num gráfico ou na partitura a imagem do som, da textura... para descrever, levaria horas a fio...)

Muitas composições nascem assim... andando de carro, de repente uma pequena explosão e pronto: os tentáculos começam a criar o movimento dos sons... ou então, andando no calçadão com um olho nas folhas borradas e o outro na objetiva de uma máquina fotográfica... "capturei o cara capturando...!!", e os tentáculos começam uma epopéia... "imagem borrada=movimento capturado=composição pensando no movimento=postagem no blog etc...!!!

Agora, o que não se pode falar nem dizer, só podemos mesmo mostrar ou ver... ver o verdadeiro capturador de movimentos: Igor Stravinsky !!!!



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