segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O papel dos sons na composição: ou...



(aula do PARFOR - 25/08/2012)

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...a composição com sons de papel.


"O menino e a folha de capim" (l’enfant a l’herbe)

“O homo faber envelhecido só toca stradivarius. É preciso, portanto, rejuvenescer os quadros. Vamos escutar um menino que apanhou uma folha adequada, espicha-a entre as suas duas palmas e agora a sopra, enquanto o côncavo das suas mãos lhe serve de ressonador…ele escolheu, por sua própria conta, entre as fontes de sons, uma que lhe parecia das convenientes à sua atividade. Com efeito, esse menino experimenta os seus sons uns após os outros, e o problema que ele coloca é menos o da identificação do que o do estilo de fabricação. Por outro lado, a sua intenção é visivelmente 'música'. Se o resultado não parecer musical aos seus ouvintes exasperados, não se poderia negar ao autor uma intenção estética, ou pelo menos uma atividade artística…O seu objetivo é gratuito, senão gracioso; confessêmo-lo, ele é mesmo musical. Não satisfeito em emitir sons, ele os compara, ele os julga, acha-os mais ou menos bem sucedidos, e a sua sucessão mais ou menos satisfatória. Como havíamos dito do homem de Neanderthal, se esse menino não faz música, quem a faz então?” 

(Schaeffer, 1993, p.283,284)

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Como professor e compositor, busco seguir o seguinte lema:  educação e composição devem andar de mãos dadas. Existem tantos tipos de músicas, quanto tipos de aulas de composição.

Após experimentar (em grupo, num jogo, ritual ou improviso) diferentes sons que uma folha de papel pode produzir, tentamos classificá-los (tipologia) e grafá-los (desenhá-los). Exercício bruto de percepção: produzir, detectar, comparar, discriminar, reconhecer e classificar os sons. 

Na simples tentativa de descrever e desenhar estes sons sentimos aquela pressão no cérebro, e o pensamento é forçado a pensar coisas que ainda não está acostumado a pensar: limiar entre o que já conhecemos e o que ainda não reconhecemos, entre o que preciso e o impreciso (entre a memória associativa e a memória informada).

Descrição do exercício de criação para quarteto de folhas de papel:

  1. Explorar os diferentes tipos de sons do instrumento (modos de “tocar”) e experimentar variações (de intensidades, velocidades, nuances timbrísticas, texturas etc); 
  2.  Comparar e catalogar os diferentes tipos de sons (se possível descrever e desenhar); 
  3.  Estabelecendo alguns critérios: duração (entre 1’30” a 2’30”); forma (começo-meio-fim); usar todos os sons catalogados anteriormente; todos devem tocar, não necessariamente ao mesmo tempo; só pode “tempo LISO”;
 (aula do PARFOR - 01/09/2012)

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“Limpeza de ouvidos”

“Começa-se ouvindo sons. O mundo é cheio de sons que podem ser ouvidos em toda parte. As espécies mais óbvias de sons são também as menos ouvidas, essa é a razão da operação limpeza-de-ouvidos concentrar-se nelas.
(...) Um suspiro é uma informação secreta e privilegiada. Por isso, apuramos os ouvidos para percebê-lo. É o mesmo privilégio. Ouvir sons delicados é um privilégio semelhante; muitas pessoas nunca ouvem.” 

(Schafer, 1991, p.103,105)

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