(Francis Bacon - Head VI, 1949)
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“A arte é o
grito de socorro dos que experimentam em si o destino dos homens; não dos que
se acomodarão a esse destino, mas dos que lutarão com ele; não dos que servem
brandamente “aos poderes sombrios”, mas dos que se jogam dentro da máquina para
agarrar seu mecanismo; não dos que desviam os olhos para se proteger da emoção,
mas dos que os abrem bem para apanhar o que tem de ser apanhado”. (Schoenberg,
1910)
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Retomar a
obra (atonal) de Schoenberg hoje, mais de 113 anos, exige ainda de nossa
percepção um desafio estimulante (frustrante?) face à ausência das
referencialidades da escuta do bom senso. Que significa isso? Um pouco de liberdade (indiferença?)...? ...uma
escuta que nos prende na expectativa do que está por vir, mas o que pode estar
por vir? (...ao contrário de uma escuta em que o canto já está determinado, e
já sabemos para onde seremos levados...)
Como criar
par si uma escuta que ouça aquilo que ainda não temos referência? Como compor
imaginando uma música que ainda não escutamos? Uma tentativa de prever o
futuro? Nada disso... mas uma possibilidade de se defrontar com as forças do
futuro! Quais forças são essas?
Minha
primeira tentativa neste sentido foi uma peça para piano solo escrita em 2004,
por ocasião do 2º. Encontro de Compositores Universitários: “Tríptico das
Hecceidades”, dedicado à pianista Sandra Secco Delallo. O terceiro movimento (painel
da direita) se chama “o grito amordaçado”, inspirada numa espécie de releitura
da terceira peça do op.11 de Schoenberg, mas a partir de procedimentos mais “automáticos”
(pelo menos na mão direita, um “meta-cânone”...). Um tipo de figura
polirrítmica numa espiral compulsiva culminando na morte do Leão enjaulado.
Depois
disso não consegui terminar nenhuma composição por uns 4 ou 5 anos (tempos de
crises)... até começar a esboçar um outro procedimento (mais instantâneo,
talvez?) ... mas já é outra história. Nunca saímos ilesos quando nos
defrontamos com as forças do futuro, do caos (...da morte?) ... no meu caso foi
somente uma pequeníssima fenda, e quase mudei de profissão!!
Fico imaginando
então o que deve ter passado Schoenberg nos anos de 1909 a 1923!?!! ...não é
para qualquer um... “Se é arte, não é para as massas, e se é
para as massas, não é arte” (Schoenberg)
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“Bacon faz
a pintura do grito porque põe a visibilidade do grito, a boca aberta como um
abismo de sombra, em relação com forças invisíveis, que são as forças do
futuro. É Kafka quem falava em detectar as potências diabólicas do futuro que
batem à porta. Cada grito as contém potencialmente. Inocêncio X grita por trás
da cortina, não apenas como alguém que não pode mais ser visto, mas como alguém
que não vê, nada mais tem para ver, que tem apenas por função tornar visíveis
essas forças do invisível que o fazem gritar, essas potências do futuro. Esse
grito é expresso na fórmula “gritar para...”. Não gritar diante..., nem de..., mas
gritar para a morte etc., para
sugerir esse acoplamento de forças, a força sensível do grito e a força
insensível do que faz gritar.” (Deleuze, Lógica da sensação – pg.66)
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