Imaginemos uma cena numa peça com
três personagens: o primeiro atua de forma brutal batendo no segundo; o segundo
sofre esta ação, uma vez que suas ações são dominadas por aquelas do primeiro;
e por último, o terceiro personagem está presente no conflito mas permanece
inativo. Se nós transpomos esta parábola para o campo do ritmo, nós temos três
grupos rítmicos: o primeiro, cujos valores rítmicos estão sempre aumentando, é
o personagem que ataca; o segundo, cujos valores diminuem, é o personagem que é
atacado e o terceiro, cujos valores nunca mudam, é o personagem que permanece
imóvel. (Olivier
Messiaen)
Lembrando
uma aula de musicalização da Cecília, me veio um plano para a composição de
algumas peças para piano solo: as “Cecilianas”. Descrição da cena: no quarto são
2 personagens ativos (A), que
conduzem as ações dos outros; outros 4 personagens são "hiper-ativos" (B), pois além de participarem das ações,
em alguns momentos traçam uma escapada, com gestos imprevisíveis; e há também
mais 3 personagens testemunhas (C),
que ficam apenas observando (ver esquema abaixo):
O Plano:
1. grupos de 2-4-3 conjuntos de notas
(para cada identidade de personagens respectivamente: A-B-C);
2. três registros para cada grupo,
respectivamente: A=agudo; B=médio; C=grave;
3. a entrada de cada grupo de notas deverá
seguir a seguinte ordem numérica: 2-4-3-5, em cânone...;
4. três comportamentos para cada grupo:
A=notas repetidas em stacatto + “buracos”; B=notas em tenuto com intervenções
de apojaturas; C=notas oitavadas longas
e acentuadas;
Ok, vamos
ver como isso soa:
Humm...
legal !! Já temos um comportamento (território) com certo grau de consistência
(identidade). Digamos que uma foto de uma paisagem em estado bruto... O próximo passo é dar continuidade, "esculpir" esta paisagem e... traçar a irresistível
linha de fuga!!
Mas este
passo vai ter que esperar um pouco na fila... não percam os próximos posts...!!!
* * *
Para saber mais sobre os "personagens rítmicos" de Messiaen:
1. texto de silvio ferraz (clique aqui);
2. pedaço de texto de Ronald Bogue (clique aqui);
3. dissertação de Salomé Walt (clique aqui);
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