quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Estratégias de Composição 0001: contraponto imitativo



Hoje não senti vontade para pensar em qualquer composição. Resolvi então jogar uma partida de xadrez com o meu Doppelgänger. Ficamos em silêncio absoluto por uns 45 minutos... até que ele me perguntou: "como andam as sua composições?..." Não respondi nada... desloquei o cavalo atacando a rainha dele; imediatamente ele pegou seu bispo e me colocou em cheque!! Putz...!! Disgramado!!! Então eu disse: "hoje não estou com nenhuma vontade para pensar em compor..."

Quando estamos compondo, nos deparamos com algumas dualidades e somos forçados a nos sub-dividir... aquilo que acreditávamos (imaginávamos) como um todo, único e perfeito, uma UNIDADE, começa a se bifurcar, em 2 linhas, depois 4, 8, 16... até um ponto em que temos que optar por uma das possibilidades, a fim de dar continuidade no processo.

Uma dessas dificuldades é a seguinte: seguir um caminho mais intuitivo ou mais racional? Mais informal ou mais calculado? Mais improvisado ou pré-determinado? Deixar o jogo "rolar" a cada jogada, ou prever as próximas 10 ou 15 rodadas? Acreditar na Fé ou na Ciência?

Quando o que era entusiasmo se transforma em confusão, um dos meus lados (o mais pragmático) recai sobre a razão: p.ex., pensar em um contraponto imitativo, um dos procedimentos composicionais mais utilizados na história da composição ocidental (..quiçá sua essência?). Não consigo lembrar algum nome (de Machaut a Messiaen) que não tenha usado esta técnica composicional.

São os autômatos!!! Você elabora uma linha e já tem várias linhas prontas para completar... usei o contraponto imitativo em meu Trivium para 3 violões (de 1997), depois nos Arcos em quartas (piano solo), na parte central do Tríptico das Hecceidades (piano, 2004), nos Passos no Rastro (orquestra, 2011), intensamente nas Germinações II (quarteto de flautas, 2011/12) e também na Dupla Captura (vibrafone e piano, 2012).

Mas tem horas que cansa fazer cálculos para projetar a música no tempo... Tem horas que dá vontade simplesmente de pensar instantaneamente a música acontecendo... tem horas que tudo começa a ficar enfadonho, e muita inversão, muito caranguejo, muito espelho pra lá, pra cá... e a música já era!! Nessas horas pensar na estratégia do contraponto imitativo não adianta mais, pelo contrário...

Então, volto a jogar xadrez com o meu Doppelgänger. Como escapar deste bispo??

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